1991

Tuiuiús, pardais e abelhas-africanas

Resumo

Há alguma semelhança entre a televisão e o futebol. Durante um jogo de futebol posso me entediar com a ausência de jogadas brilhantes, da mesma forma que, de repente, posso me emocionar com um gol.

Com a televisão acontece o mesmo. Passa-se do tédio à emoção rapidamente. Dela, assim como de futebol, são muitos os entendidos. Há muita falação para o bem ou para o mal.

Assim, cabe ir além disso, para entender um pouco do sentido dessa pequena e colorida fabriqueta de subjetividades, que fica geralmente na sala, diante do sofá.

Mais: notar como a televisão reduz as noções de tempo e espaço. Daí que, todo dia, bilhões de telespectadores não só testemunham tragédias e comédias de todo tipo como também comportamentos de inúmeras tribos e suas infinitas particularidades.

O homem vai à Lua, e lá deposita satélites para, aliás, aumentar o poder de difusão televisiva. Na Praça da Paz Celestial, tanques dançam por causa de um só senhor chinês, e tanto sociólogos quanto taxistas comentam o acontecimento. Os canais de televisão celebram os 80 anos de imigração japonesa no Brasil. São cursos, documentários, “sashimis”, “espiroquis” etc. Assim se cria algo de japonês no brasileiro e vice-versa.

Como ignorar essa bomba que há em cada casa? Ela que é mais influente do que qualquer outra nos destinos das nações.


Há alguma semelhança entre o fato de vermos TV e uma partida de futebol. Durante o jogo de futebol posso me entediar com a ausência de jogadas brilhantes, da mesma forma que de um minuto para outro posso me emocionar com o gol do Neto cobrado de escanteio.

Com a televisão ocorre o mesmo; nos entediamos/emocionamos em frações de segundo. De televisão assim como de futebol todos entendemos um pouco, todos palpitamos, todos nós falamos bem ou mal.

O que vi de interessante nos dias em que participei das discussões aqui realizadas, é que elas procuraram além do bem e do mal, e avançaram no sentido de entender um pouco o significado dessa pequena e colorida fabriqueta de subjetividades, que fica geralmente diante de um sofá, em nossos lares.

Peço desculpas pela falta do rigor acadêmico. É uma limitação minha, mas pretendo fazer aqui um pouco o papel de advogado de defesa do meio. Começarei então fazendo uma pequena viagem pelo “túnel do tempo”.

VIAGEM N.° 1: IDADE MÉDIA

Todo mundo conhece aquela série, O túnel do tempo; então, vou convidar o leitor para entrarmos nesse túnel e parar no ano de 1200 d.C. — depois de Cristo — em plena Idade Média.

É certo que naquela época não existia TV e, muito menos, o jornal Notícias Populares. Mas, se estamos aqui na “Rede imaginária”, vamos imaginar que a manchete do Notícias Populares do dia 30 de setembro de 1200 d.C. fosse assim: “Navio dança no precipício sem deixar pistas”. Copérnico e Galileu iriam iniciar a discussão sobre se o mundo era uma bolinha ou um quadrado e a notícia dizia o seguinte: “Passadas 27 luas da data prevista do seu retorno, conclui-se que o navio não retornará mais…”. A bússola ainda estava em via de ser descoberta. Vamos, então, ficar com uma pergunta na cabeça sobre a Idade Média: qual é a noção de tempo e espaço que as pessoas tinham?

VIAGEM N°2: HOMEM NA LUA

Agora vamos fazer outra viagem para o ano de 1969, com a ida do homem à Lua. Aqueles dois astronautas saltitando na Lua e observando a bolinha à distância sem dúvida foi uma das imagens mais importantes que a TV mostrou na década de 70. Sobre as descobertas espaciais em si a gente acaba não sabendo muita coisa, mas tem um objeto em forma de triângulo que as expedições espaciais acabam deixando no espaço, que é de grande valia para os terrestres. Estou falando dos satélites, que interligam todas as tribos do planeta. Isso significa que a bolinha fica cada vez menor e o homem fica cada vez maior, já que a cada dia, em questão de segundos, não só temos acesso a tragédias e comédias que estão ocorrendo em algumas tribos, mas também começamos a ter acesso ao comportamento de diversas tribos em suas infinitas singularidades.

VIAGEM N° 3: TANQUES DANÇANDO BALÉ

Vamos discutir, então, outra imagem televisiva, a meu ver a imagem mais importante da década de 80. Trata-se daquele senhor magro e chinês fazendo os tanques dançarem balé nas imediações da Praça da Paz, no recente massacre chinês. O mundo parou para observar um fato que historiadores e sociólogos, em centenas de livros, chamam de stalinismo. Nunca e num espaço tão curto de tempo milhões de habitantes do planeta despertaram sua curiosidade para esse fenômeno histórico, em via de extinção.

No dia seguinte, um motorista de táxi puxou um papo comigo sobre as benesses e malesses do comunismo; pelo tom meio surrealista de seus comentários, logo percebi que ele não era do PT e nunca tinha lido nada a respeito. Isso pouco importa; o que importa é que aquela imagem confundiu sua cabeça: ele procurava, naquele momento, formar um novo conceito sobre comunismo.

VIAGEM N° 4: ORIENTAIS NA TROPICÁLIA

Vamos pensar, então, num outro exemplo de vivência televisiva: no ano passado, ou retrasado, comemoramos no Brasil oitenta anos de imigração japonesa. A onda oriental, que já há alguns anos vem passeando pelo Ocidente, neste ano marcou presença. Vimos um festival de cursos, sashimis, espiroquis, documentis, e uma série de coisas sobre a cultura japonesa. Quem conhece um oriental ou é amigo de um, sabe das dificuldades e conflitos por que passa uma família oriental, com toda a sua disciplina rígida e introspectiva, ao viver em meio a latino-brasileiros.

Creio que essa invasão de informações orientais, via TV, contribuiu para que as infinitas relações invisíveis e cotidianas que muitos de nós mantemos com orientais na escola, no trabalho ou na cama, tomassem pequenas e novas dimensões, e nessas relações ganham os dois — brasileiros deixam de ser um pouco brasileiros e orientais deixam de ser um pouco orientais. Acho importante refletirmos um pouco nesse aspecto de confusão de conceito e informações que a mídia ocasiona em nossas cabeças, fugindo e se confundindo com o papel, que não raras vezes é atribuído de controle total de tudo.

TÉDIO COM TECNOLOGIA É MELHOR

Por vezes, atribuem à TV a capacidade de produzir sentimentos humanos, que nasceram muito antes que ela, como o tédio, por exemplo. O tédio é uma condição humana que, segundo o Aurélio, significa “desgosto pela vida” e que deve ter nascido junto com Adão e Eva. Nós também utilizamos a palavra tédio quando nos referimos a pequenas cidades do interior e todo o circuito de fofocas e controle que se estabelece na vida das pessoas.

Pensando assim, prefiro o tédio com tecnologia das grandes cidades; talvez sentado na poltrona da minha casa me enchendo de chocolate e não atendendo ao telefone.

NEURÔNIOS OCIOSOS E NEURÔNIOS ELÉTRICOS

E, já que falamos em tédio, vamos entrar novamente no túnel do tempo e retornar à Idade Média, que, sem dúvida, foi uma das épocas mais tediosas da história da humanidade. Vamos fazer uma pequena pesquisa para saber o número de informações médias que um fulano que vivia na Idade Média recebia por dia. À parte as informações do tipo acordar, vestir-se, trabalhar, informações quase biológicas do dia-a-dia, o número de novidades que a vida no feudo possibilitava era baixíssimo (com exceção das festas anuais que eram realizadas nas vilas onde o excesso da produção era distribuído e, segundo relato de alguns historiadores, eram verdadeiras “festas de arromba”…). Portanto, os neurônios nos cérebros humanos na Idade Média ficavam grande parte do tempo dormindo — eram sem dúvida neurônios ociosos.

Mas não precisamos ir até a Idade Média. Se pegarmos o início do século, perceberemos que, apesar de a Revolução Industrial ter tirado algumas horinhas de sono dos ociosos neurônios, eles só começaram a trabalhar mesmo com o advento da mídia eletrônica. A composição química dos neurônios não deve ter se modificado; o que acontece hoje é que eles são submetidos a uma intensa e ininterrupta aula de aeróbica, desde a hora em que acordamos com o radiorrelógio até a hora em que dormimos, às vezes, com a TV ligada.

Ora, se o número de informações que recebo é muito maior, também é maior a possibilidade de elas se abalroarem em nossos cérebros. Se eu pudesse criar uma imagem de nossos cérebros hoje em dia, ela seria como um enorme engarrafamento na hora do rush; cada carro é um fragmento de nossas experiências passadas e presentes, das mais sérias e significativas às mais banais. Acontece que a configuração desse enorme trânsito de informações acumuladas não só nunca é a mesma, como o número de carros continua a aumentar. Este enorme trânsito de informações e suas infinitas trombadas ativam uma das sensações mais nobres do ser humano, a saber: a curiosidade.

UMA IMAGEM, QUATRO REAÇÕES

Vamos voltar agora à imagem do chinês que fez os tanques dançarem balé na praça da Paz, e vamos analisar a reação de quatro pessoas: um trotskista fica emocionado com a confirmação de suas velhas teses sobre “a burocratização e militarização dos Estados comunistas”; um stalinista vê naquele senhor “um degenerado”, “pequeno-burguês”, “contra-revolucionário”, e por aí vai; um capitalista enche o peito e confirma suas teses de que “comunistas comem criancinhas”, e prepara sua ficha de filiação ao Partido Liberal; o taxista ficou apenas curioso e confuso. Esta, eu creio, é uma contradição fundamental das grandes redes. Elas são obrigadas a dar a mesma informação para milhões de tele-humanos. Esta mesma informação, seja de caráter factual ou comportamental, causa nos cérebros dos telespectadores infinitas combinações e polarizações, gerando diferentes tipos de reações.

Não estou querendo com isso menosprezar o forte papel de controle que os meios exercem em nossas vidas e nos destinos de um país, mas somente ressaltar que junto com esse controle eles passam uma enorme dose de confusão por meio de suas informações fragmentárias, superficiais e caricaturais. Informações que pretendem nos esconder dados e, portanto, nos controlar. Mas estas mesmas informações é que vão deixar nossos neurônios irritados, portanto com muita curiosidade.

ANALFABETO INFORMADO

Pensemos na situação de um analfabeto diante da TV. Este é um dos poucos momentos do dia em que o analfabeto não é humilhado por coisas banais como, por exemplo, ter de reconhecer ônibus pela cor, ou gaguejar pedindo informação sobre a localização de uma rua. Diante da TV ele se sente sabidão e informadão.

INSTITUIÇÕES CAPENGAS E A MÍDIA

Vamos ver agora essas modinhas que a TV lança, por vezes acompanhadas de perto por jornais como a Folha de S. Paulo e sua apatia pós-modernista. O bacana agora é casar, ter uma boa profissão, vestir-se assim ou assado, enfim, o negócio é não andar mocozado; tem de ser chique e discreto. Essas campanhas são lançadas num espaço-ciclo de alguns anos, em meio a muita venda de sabonete. Não nos esquecemos da onda de amizades coloridas e casamentos moderninhos e depois a onda yuppie. Essas campanhas influenciam nossas existências, mas são passageiras, pois nossos terremotos individuais e coletivos continuam a se implodir em escala monumental. É curioso ver na televisão uma pesquisa feita com jovens dizendo que eles, 92 % deles, querem se casar, para na semana seguinte abrir o jornal e ver outra pesquisa segundo a qual o número de casamentos, de 1988 para 1989, diminuiu e o número de divórcios aumentou. E nossos terremotos individuais e coletivos vão continuar a implodir cada vez mais, por um simples motivo: as instituições em que convivemos não funcionam mais; elas estão cada vez mais vazias de conteúdo e não respondem minimamente a nossos anseios.

As universidades não funcionam como centros de produção. As pessoas vivem o papel de marido e mulher, pai e filho, de uma forma completamente diversa. Trágica ou criativamente a organização familiar mergulha em profundas mutações. O Parlamento, seja aqui ou no dito Primeiro Mundo, é cada dia mais uma piada; vazio em seus debates; parece que tudo se decide fora deles. As religiões se multiplicam em escalas geométricas e o mais curioso é que no meio desta crise de representação os interlocutores oficiais dessas instituições necessitam cada vez mais da mídia eletrônica para se manterem vivos.

GUERRILHA MIDIÁTICA

Faltando dez anos para a passagem do segundo milênio as relações inter-humanas tendem cada vez mais a se eletrificar, no sentido de o homem se codificar/decodificar, descobrir/encobrir-se em suas relações institucionais e pessoais através de aparatos eletrônicos.

A ditadura do imaginário exercida pelo monopólio da mídia e sua linguagem unidirecional deve ser questionada com a práxis de experimentos de comunicação eletrônica que apontem para a bidimensionalidade e horizontalização das relações humanas, possibilitando assim que as diferenças se conflitem e não se caricaturem nacionalmente.

O desenvolvimento desta práxis deve ser encarado como uma espécie de realfabetização de nossas relações, possibilitando assim o desenvolvimento de novas formas de socialização e ritualização de nossos conflitos, sejam eles relativos ao “bolso ou à alma”. Fazer cultura hoje em dia passa necessariamente por apertar botõezinhos e instalar fiozinhos.

ERA UMA VEZ…

Faço agora um pequeno balanço das atividades dos produtores eletrônicos de cultura na década de 80 em São Paulo.

Tudo começou numa cidade do interior paulistano denominada Sorocaba. Era verão do ano de 1983 e chegaram a existir ali cerca de quarenta rádios livres.

Eles se diziam apolíticos; o negócio era “botar muita música, uns recados para a sogra e umas paqueradinhas radiofônicas”. Se não é político ligar o botãozinho de um transmissor sem o consentimento do Ministério das Comunicações, eu não sei mais o que é político. Além do mais, acho profundamente político discutir com a sogra em público, rompendo assim o monopólio da fofoca familiar.

Animados com a experiência de Sorocaba e com o clima nacional lacrimejante cristão da era pós-Tancredo, um grupo de alunos da PUC-SP coloca um pequeno transmissor no ar. O nome da rádio era Xilik (julho de 1985 a abril de 1986).

A Xilik acabou saindo mais na mídia impressa que no radiorreceptor dos radioamantes da região das Perdizes. Isto, por outro lado, possibilitou/incentivou o surgimento de uma infinidade de rádios livres, em São Paulo e no Brasil: Trip, Ítaca, Toto Ternura, Molotov, Tereza, Invasão, Trambique, Se ligue no Supla, Vírus, Dengue, e uma série de outras com nomes estranhos começaram a povoar pequenos “pedaços de ar” espalhados por todo o Brasil.

Na maioria das vezes estas experiências foram bastante efêmeras, durando somente alguns meses, já que esses grupos não estavam ligados a nenhuma instituição e não encontraram formas de se manterem financeiramente. Talvez a efemeridade era o que juntava as pessoas. Por outro lado, justamente o fato de não estarem ligados a instituições possibilitava experimentos muito curiosos e singulares em termos de linguagem radiofônica.

Apesar de alguns grupos ligados a sindicatos ou a candidaturas do PT se entusiasmarem com a ideia, nunca foram levados muito a sério pela direção destas organizações, sendo tratados como moleques e artistas. A Rádio Invasão, ligada à CUT-Zona Sul, foi uma experiência que, apesar de viva e eficaz, não durou mais de três meses por boicote declarado de alguns diretores locais, que chegavam a rasgar cartazes da rádio argumentando que a “rádio estava agindo paralelamente e que sua programação teria de ser submetida à direção do sindicato antes de ir para o ar”.

A CUT e o PT parecem preferir continuar gastando milhões de cruzeiros com seus panfletos e jornais e, apesar de reclamarem muito da Globo, continuam anestesiados pelos dois meses anuais do horário eleitoral gratuito que tende cada vez mais a ser rejeitado como um todo pela “telepopulação”.

A Igreja, seja ela ligada à teologia da libertação ou à teologia evangélica, já percebeu a importância vital de se comunicar eletronicamente com suas comunidades.

Desde 1985 os movimentos dos “sem-terra” ou por melhoria de condições de vida (água, luz, esgoto etc.) na periferia de São Paulo convivem com rádios de alto-falantes em seus locais de moradia. Funcionando geralmente nos finais de semana e conflitando com as intempéries do vento que por vezes leva o sinal para longe, são mais de cinquenta “rádios populares”, instaladas na periferia de São Paulo. Estas rádios costumam fazer bastante sucesso e não tratam somente de questões de melhorias de condições de vida. Suas radionovelas e sociodramas discutem comportamento, trocam receitas de bolo e mantêm uma relação real com a comunidade atingida. Mais ousados tecnicamente, os evangélicos fazem suas rádios com transmissores mesmo. Vários grupos de diversas igrejas evangélicas sustentam a programação de pelo menos quatro rádio-livres na Zona Leste de São Paulo. Misturando cânticos evangélicos embalados com o ritmo do rock’n’roll e campanhas contra as drogas, os evangélicos estão participando ativamente da “reforma agrária no ar”.

E já que estamos na Zona Leste, não poderíamos deixar de falar na Rádio Reversão. Tendo conseguido sustentação financeira por meio de um galpão-bar, onde a rádio está instalada, este experimento cultural já dura dois anos e meio, intervindo diariamente das vinte às catorze horas.

Saídas de suas isoladas garagens, são inúmeras as bandas de rock da região que se organizaram em torno do projeto “Reversão” (casa de cultura e rádio), criando no bairro da Penha um pequeno mas singular e autônomo ponto de produção cultural na cidade.

AS IMAGENS

A produção independente completa dez anos de existência desenvolvendo-se em escala geométrica, apesar da inexistência de um mercado que alimente esta produção. A verdadeira invasão de camcorders possibilita que setores cada vez mais amplos de tele-humanos passem a produzir imagens e mais imagens combinadas em sons.

A experiência de grupos independentes nas TVS, apesar de influenciar muito a linguagem televisiva, foi também bastante efêmera, tendo em vista o rígido controle exercido pelas grandes redes e as dificuldades de patrocínio.

Apesar dos problemas de veiculação, os videastas organizam uma série de festivais regionais e nacionais e procuram veicular seus produtos em pequenas salas de exibição que começam a surgir em diversas cidades.

Concretizam-se também experiências de exibição na rua com destaque para TV Viva de Recife, que com seu “telão-kombi-ambulante” tem lugar cativo nos olhos de centenas de tele-humanos que habitam as praças dos bairros da periferia de Recife.

Alguns sindicatos começam a adquirir equipamentos profissionais de vídeo e dão início à produção imagética. Químicos e bancários de São Paulo e metalúrgicos de São Bernardo e sua TVT—TV dos Trabalhadores.

Surgem três TVS piratas: 3 Antena, TV Lama, no Rio de Janeiro, e TV Cubo, em São Paulo. Esta última, apesar da irregularidade de suas transmissões, vem intervindo nos bairros de Pinheiros, Vila Madalena e Butantã há quatro anos e está buscando a sua legalização junto ao Ministério das Comunicações como única forma de sustentação financeira do projeto.

E DAÍ?

Creio ser muito difícil saber ao certo o momento da maturação de movimentos sociais. O que dá para afirmar é que a cada ano amplia-se quantitativa e qualitativamente o número de pessoas e organizações querendo eletrificar suas relações. Na década de 80 estes grupos foram bastante marginais, nos permitindo compará-los a pequenos e singulares exércitos de Brancaleone; a década de 90 permite que sonhemos com uma mudança no mapeamento do monopólio da mídia eletrônica no Brasil. A Rede Globo entra nesta década enfrentando a maior crise da história de seu império. Os tele-humanos tupiniquins, com ou sem controle-remoto, estão mudando de canal, e sua audiência imbatível começa a ser questionada em diversas programações e horários.

Por outro lado, setores significativos do PT — Partido dos Trabalhadores — e da CUT — Central Única dos Trabalhadores — começam a tomar iniciativas concretas de comunicação eletrônica. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo ameaça colocar uma rádio pirata no ar caso o Ministério das Comunicações não forneça a concessão já requisitada há alguns anos. Além do início da ocupação do UHF, por opções que apontam para a segmentação: TV Abril, TV Jovem Pan etc.

DEMOCRACIA ELETRÔNICA E CONTROLE REMOTO

Estas iniciativas devem contribuir para a verdadeira democratização da mídia eletrônica. Pois não podemos considerar democracia na TV o fato de os “jacarés pantaneiros” da Manchete estarem papando alguns pontinhos do “dinossauro global”. O que existe de importante neste caso é que os tele-humanos começam a usar mais seus controles-remotos. O nariz cheira o que o olho está vendo e ordena que mudemos de canal. Para fazê-lo, precisamos ter um controle-remoto lépido e multifacetado. A cada movimento de nossos dedos, nos conectamos com um fragmento de informação, de emoção, de tragédia, de comédia. Em São Paulo, no Piauí, ou em Tóquio.

Democracia na TV haverá, portanto, quando tele-humanos tiverem nas mãos um zoontrole-remoto que não lhes ofereça somente o “jacaré pantaneiro do vovô Bloch”, “o dinossauro global”, ou o “jegue eletrônico do tio Sílvio”. Mas centenas de tuiuiús, pardais, lobos da Nova Zelândia, abelhas-africanas ou tigres do Paraguai.

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