1998

Descobrimentos portugueses e Renascimento europeu

por José V. de Pina Martins

Resumo

O Renascimento europeu, que numa primeira fase redescobre a Antiguidade clássica e depois evolui para uma filosofia naturalista, em Portugal identifica-se com os Descobrimentos. É um navegador português, Rafael Hitlodeu, que, na Utopiafictícia de Thomas More (1516), exprime as ideias humanistas no que elas têm de mais generoso. São os nautas portugueses que revelam à Europa uma nova humanidade e uma lição de bom governo. Esse anseio da consciência moderna se espalhava então com a imprensa de tipos móveis. Da filologia à historiografia, da medicina à ciência do mundo celeste em Copérnico e Galileu, a atitude fundamental do homem do Renascimento é a curiosidade, encarnada em Portugal no infante D. Henrique, leitor do Livro das maravilhas de Marco Polo. Já no século XV os portugueses praticavam a navegação astronômica, tinham um conhecimento das correntes marítimas e do regime dos ventos, os pilotos serviam-se de manuais de navegação. Essa curiosidade empírica faz avançar o conhecimento crítico. Mas o Renascimento português busca também conciliar, de maneira contraditória porque enraizada na tradição católica como o espanhol, as ideias pacifistas do humanismo com o proselitismo da expansão e da evangelização. Essa contradição transparece nos Lusíadas de Camões. Embora o poema esteja sintonizado com o destino histórico da curiosidade e da descoberta, com o desejo de escolher seu próprio caminho, há também a consciência dos mistérios do mar, do desconhecido e dos perigos que acabam por aniquilar “esse bicho da terra tão pequeno”.


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A palavra descobrimento significa “acto de pôr à vista o que se encontra escondido, de revelar à luz do conhecimento o que antes estava oculto”. Já foi observado que as palavras descobrire descobrimento aparecem em textos portugueses até pouco depois de meados do século XVI mais de 3 mil vezes, enquanto as palavras conquistar e conquista, até 1507, não são adoptadas senão umas escassas dezenas de vezes.[1] Pesquisas deste género revestem uma importância não secundária já que penetram na própria consciência de uma mentalidade colectiva expressa nos textos, a qual talvez possa identificar-se, dentro de certos limites, com a vocação histórica de uma comunidade nacional.

Pelo que concerne ao conceito de “Renascimento”, já consagrado há muito, aceita-se que a realidade cultural por ele designada tenha surgido no século XIV com Francesco Petrarca, preenchido que foi, na sua primeira fase histórica, pelo culto das letras humanas, pelo Humanismo. Depois do interesse pelo homem como microcosmo vem o interesse pela natureza e pelas leis que regem o mundo macrocósmico, o Universo. Os humanistas primeiro, os cientistas depois. A Lorenzo Valia, Marsilio Ficino, Ermolao Bárbaro, Angelo Poliziano, Giovanni Pico della Mirandola, Pietro Bembo, Lefevre d’Étaples, Guillaume Budé, Thomas More, Nebrija, Vives, Erasmo e Clenardo, sucedem Giordano Bruno, Tommaso Campanella, Galileo Galilei, Bacon e Descartes.

Nas suas viagens marítimas, os portugueses atingem o cabo Bojador em 1434. Só meio século depois, em 1483, chegam à foz do Congo e apenas em 1487 dobram o cabo da Boa Esperança. Ao serviço dos Reis Católicos, Cristóvão Colombo descobre a América em 1492. Tiveram de passar ainda mais alguns anos para que Vasco da Gama aportasse à costa do Malabar e para que Pedro Álvares Cabral descobrisse terras de Vera Cruz. Mas a partir de 1500, por obra e graça dos caracteres móveis, toda a Europa vai seguir apaixonadamente o progresso dos Descobrimentos ibéricos e das ciências novas que dela dimanam. As cartas em latim escritas pelo rei de Portugal e enviadas à corte de Roma são traduzidas e editadas em várias línguas, de Lisboa a Roma e a Paris. Os italianos publicam os relatos de navegações logo nos inícios do século, servindo-se das descrições de Vespúcio dando conta de viagens verdadeiras e algumas talvez fabulosas.

Pouco depois aparecerá, em 1507, a “raccolta” Paesi nuovamente retrovati, logo vertida para latim e editada em Milão em 1508 com o título ltinerarium Portugalensiun. Depois de meados do século, os relatos de Ramúsio difundem textos hispânicos, nomeadamente portugueses, em língua italiana, alguns dos quais, como o Livro de Duarte Barbosa, só mais tarde, no século XIX, viriam a ser publicados em português.[2] De 1510 até 1543 os portugueses estabeleceram-se em Goa, em Malaca, em Samatra, na China e chegaram ao Japão. Os humanistas referem estes factos, sobretudo com a menção das novas terras e dos novos mundos desvendados. Aldo Manuzio, na carta a Leão X inserta nas páginas preliminares da sua edição em grego do corpus platónico, no ano de 1513, sublinha a importância das navegações portuguesas e da acção de D. Manuel I para a expansão do cristianismo.[3] Lefevre d’Étaples, em 1522, considera que os horizontes geográficos onde vivem as sociedades gentílicas achadas por portugueses e espanhóis, são susceptíveis de representar outros espaços para estabelecer regnum Christi.[4] Erasmo é mais reticente: receia que, em nome de Cristo, os descobridores e os conquistadores desejem principalmente impor a exploração e o primado dos seus interesses económicos, embora no Ecclesiastes, editado em Agosto de 1535, acabe por aceitar que os povos descobertos possam escutar a mensagem novitestamentária.[5]

O humanista Angelo Poliziano, mestre de filologia do Humanismo, julga tão importantes as viagens através da costa africana, de Marrocos ao cabo da Boa Esperança, que se propõe, numa epístola a D. João II, celebrá­ las num poema escrito em latim ou em grego:[6] não são tais gestas as dos argonautas modernos? Pouco depois, porém, o humanista Paolo Giovio não hesitará em criticar a expansão portuguesa, especialmente em virtude da venda de especiarias deterioradas, já que as venezianas, exigindo menos tempo de transporte, eram vendidas mais frescas do que as portuguesas. Damião de Góis, o amigo de Erasmo – que já antes, numa carta de 1527, tinha estigmatizado, ainda que em termos moderados, o monopólio português das especiarias – tomara a pena contra Giovio, empenhando na disputa um dos próprios cardeais da corte de Paulo III, Pietro Bembo, representante do humanismo ciceroniano.[7]

Entretanto, o mesmo Damião de Góis revela à Europa a existência de uma prestigiosa comunidade cristã africana, a etíope, cuja ortodoxia, para ele, não oferece dúvidas.[8]Bate-se ao mesmo tempo por que o nome de Cristo seja pregado aos Lapões.[9] Textos latinos e vernáculos de humanistas portugueses como Góis, João de Barros, Fernão Lopes de Castanheda e Jerónimo Osório são traduzidos em francês, italiano e noutras línguas e editados em Paris, Genebra, Veneza, Bolonha, Colónia e Londres.

Descobrimentos e Renascimento associam-se, assim, na mesma concepção do homem e da cultura; interdependem-se, estão profundamente relacionados, não raro, até, numa conexão de causa e efeito. A Respublica Christiana não tem fronteiras: humanistas portugueses ensinam em Paris, em Bordeus, em Toulouse, em Montpellier, em Grenoble, em Roma, em Siena, em Turim, em Salamanca. Humanistas espanhóis, italianos, flamengos, franceses e germânicos ensinam em Portugal nessa primavera efémera que foi o florescimento do erasmismo no Colégio das Artes, na Universidade de Coimbra, mas mesmo depois, durante o florescimento da chamada “Segunda Escolástica” coimbrã.

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Os Descobrimentos identificam-se, então, com o Renascimento português. Este, sobretudo na Itália, também é feito de pequenas e grandes descobertas. É, antes de mais, a descoberta dos códices considerados perdidos, com textos da Antiguidade greco-latina. Numa primeira fase, o movimento é caracterizado pelo culto das humaniores littterae, pelas letras humanas: o Humanismo propriamente dito. É o reconhecimento histórico, em termos de cultura, do Regnum hominis. Se as ciências da Natureza não progridem muito, tal se deve à preocupação primordial dos letrados: o estudo do homem, com a sua glorificação, como podemos documentar pela magna charta do Humanismo, o discurso De hominis dignitate de Giovanni Pico della Mirandola.[10] Virá depois a segunda fase, caracterizada pela filosofia naturalista que levará Galileo Galilei e logo após a Descartes. Antes, porém, o Renascimento tinha continuado a acentuar aspectos já modernos da cultura medieval, através de uma evolução diferenciada.

Uma concepção monista do Mundo e do Homem evolui para uma concepção dualista mais consentânea com a liberdade individual. Não se trata, como alguns críticos já pensaram, de uma dicotomia. O corpo e o espírito, o tempo e o eterno, distintos na vida e na praxis, não se excluem nem colidem entre si. Reconhecem-se como essenciais, até para uma integração humano-divina, as exigências da realidade corpórea e temporal.

É esta realidade, a do homem no seu condicionalismo de ser completo, espírito mas também corpo, que o humanista Thomas More respeita, ao imaginar o mundo ideal da Utopia, revelado pelo navegador português Rafael Hitlodeu. Os utopianos vivem secundam naturam et rationem, isto é, de acordo com a lei natural. Eram felizes, tanto quanto se pode sê-lo na vida terrena. Estavam convencidos de que seis horas de trabalho por dia são quanto pode bastar para o progresso social e para criar novos bens de que todos participam, já que, na terra de Nenhures, não há lugar para ociosos e parasitas. As leis, simples e claras, limitadas ao estritamente indispensável, estabelecem que os valores fabricados pela inteligência humana pertencem a todos os membros da mesma comunidade.[11] Platão, na República – texto inspirador da Utopia -, admitira que só os intelectuais estavam à altura de compreender a abolição da propriedade privada. Thomas More, quer o seu texto seja uma escrita lúdica de exegese espiritual superior, quer seja mesmo um livro muito sério inspirado nas comunidades primitivas dos tempos apostólicos, vai mais longe do que Platão. Se aceitarmos que o capítulo primeiro da Utopia visa, como parece indiscutível, uma crítica da sociedade ocidental e dos seus males e injustiças, então teremos de reconhecer que Rafael Hitlodeu, o marinheiro português, meio filósofo, meio filólogo, exprime em profundidade as próprias ideias do humanista naquilo que elas têm de mais generoso e de mais excelso. A Utopia não existiria sem os Descobrimentos portugueses. É verdade que Thomas More tinha lido obras do Quattrocento que são precursoras do seu pensamento, da autoria de Leon Battista Alberti, de Matteo Palmieri e até, remontando mais longe, do próprio Petrarca. Pretendeu, contudo, com a sua personagem, recordar que os nautas lusíadas estavam a revelar à Europa uma nova Humanidade de cujo exemplo poderia talvez advir, para o Ocidente, uma lição de bom governo.[12]

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Francesco Petrarca já foi chamado o primeiro homem moderno. No seu Canzioniere exprime-se uma inquietação profunda em termos de fidelidade da palavra à realidade experiencial. A mulher, celebrada pelo amor, deixa de ser divinizada como o fora na poesia provençal e no Dolce stil nuovo: ela é já uma companheira num mundo terreno, embora subtilmente idealizada no fio da invenção poética. Na sua obra latina sentimos palpitar todos os anseios da consciência moderna e é bem difícil encontrar, nos escritos dos humanistas, do próprio Erasmo, uma ideia que não tenha sido tratada ou pelo menos abordada se não esboçada nos seus diálogos e nas suas epístolas.

Uma das características da nova mentalidade do Renascimento é o desejo de conciliar o pensamento greco-latino com a doutrina cristã. De Petrarca a Marsilio Ficino, de C. Salutati a Platina, os humanistas interessam-se pela organização da sociedade. O pacifismo, a sátira da corrupção eclesiástica, a preconização de um ideal harmonioso de vida em que os direitos da humanitas sejam reconhecidos, eis alguns dos temas, entre tantos outros, que afloram a obra imensa de Desidério Erasmo.

O século XV assistira a polémicas intermináveis entre os partidários de Aristóteles e de Platão.[13] O Humanismo, pelo tratado De ente et uno de Giovanni Pico della Mirandola, propõe-se conciliar o pensamento dos dois grandes filósofos.[14] Em 1484 surgira, em latim, o corpus platónico, vertido por Marsilio Ficino e com os seus comentários; em 1492 o corpus plotiniano, traduzido também por ele em latim;[15] em 1497, ainda no idioma latino, alguns textos herméticos, numa estupenda edição aldina; nos finais do século XV, também numa edição de Aldo Manuzio, é criticamente editado em grego o corpus aristotélico.[16]

A nova filologia vai agora dar os seus frutos também no domínio dos textos bíblicos. É a versão latina, feita directamente sobre o texto grego, das Epístolas de S. Paulo, na edição levada a bom termo por Lefrève d’Étaples, no mosteiro parisiense de Saint-Germain-des-Prés.[17]

É a lição textual desse insigne monumento, o Novo Testamento da Poliglota Complutense, terminado em 1514, glória do Humanismo hispânico, precedendo a versão latina feita por Erasmo em 1516 do Novum lnstrumentum, ainda que a publicação efectiva da Bíblia de Alcalá de Henares tenha só aparecido em 1522.[18]

Os humanistas, porém, não são apenas filólogos, mas também letrados, pensadores, filósofos, teólogos. Nesse mesmo ano de 1516 é editado pela primeira vez o texto Utopia. Il príncipe de Machiavelli – que já foi considerado como uma anti-Utopia – tinha sido escrito por volta de 1513, mas só apareceu, já póstumo, em 1532. Il cortegiano de B. Castiglione, onde se retomam os temas platónicos da origem e natureza do amor, assim como se define a linha de conduta do perfeito homem civilizado, publica­ se em 1528, dedicado ao cardeal português D. Miguel da Silva.[19] Em 1529 surgem os Comentários da língua grega da autoria de Guillaume Budé, obra que ia assinalar, por efeito da carta a Francisco I, a fundação do Collège des Lecteurs Royaux, mais tarde Collège de France. Em 1535 o mesmo Budé dá à estampa um livro de importância capital para provar que do estudo das letras gregas se pode chegar aos áditos da revelação cristã, o De transitu Hellenismi ad Christianismum.[20] Em 1543, ano em que os portugueses atingem o Japão, aparece em Nuremberga o De reuolutionibus orbium caelestium de Copérnico, magna charta da ciência astronómica moderna. O Renascimento europeu está na origem do progresso científico em todos os domínios, desde o da dissecação dos corpos com vista à obtenção de um conhecimento tanto quanto possível perfeito da anatomia do corpo humano, por Vesalius, até à ciência do mundo celeste que pouco depois irá dar passos de gigante com a luneta astronómica de Galileu.

Entretanto, os portugueses, que não chegam então a ser 1,5 milhão de almas, continuam a navegar, na faina dos seus tráfegos comerciais, enquanto missionários pregam o Evangelho, para isso procurando conhecer mais rigorosamente as línguas exóticas.

Fora de Portugal, o Renascimento começa sob o signo do Humanismo. Afirmou-se já que outro tanto ocorre entre nós. Parece-me que não. Se a atitude fundamental do homem do Renascimento é a curiosidade (em relação a si mesmo, em relaçào aos textos literários cuja escrita procura aperfeiçoar por um trabalho técnico visando a fidelidade e, depois, em relação ao mundo exterior), não foi a curiosidade, empírica primeiro, mais tarde organizada e exacta, no que respeita às novas terras, a novas gentes e a novos horizontes geográficos, que levou os portugueses à empresa dos Descobrimentos? Se se pudesse demonstrar com o apoio de textos náuticos, geográficos e históricos, que existe um novo espírito, caracterizado pelo desejo de completar o conhecimento tido então do Universo através do acesso a novos horizontes da Terra, talvez não fosse inexacto sustentar que o infante D. Henrique foi de facto, como já opinou um historiador britânico, mais do que o precursor, o autêntico paladino do Renascimento português. Nesse sentido, o Infante teria sido, em Portugal, o nosso primeiro homem moderno.

Se acreditarmos num passo da Crónica da Guiné de Zurara, segundo o qual D. Henrique teria exortado Gil Eanes a desvendar o Oceano que a imaginação antiga tinha povoado de monstros,[21] essa seria já uma atitude de espírito esclarecido, verdadeiramente renascentista. É sabido que o Livro das Maravilhas de Marco Polo, que D. Pedro, irmão do Infante, teria trazido de Veneza, circulava em Portugal: foi, com efeito, editado em 1502 em Lisboa, por Valentim Fernandes, escudeiro da rainha D. Leonor, viúva de D. João II.[22]

No início das navegações atlânticas seguia-se ainda prudentemente a costa, o que permitia o reconhecimento da sua configuração reproduzido em desenhos cartográficos. Já no século XV os portugueses se encontram em condições de poder praticar a navegação astronómica, tendo bem consciência do que tal representava como progresso, de acordo com o que se escreve num dos sete documentos, existentes em Portugal, sobre a viagem de Cabral ao Brasil. Esta viagem pode considerar-se como o acme ou o ponto cimeiro do Renascimento português, isto é, dos Descobrimentos lusíadas. Descrições de terras, diários de bordo, roteiros. A experiência adquirida e os conhecimentos armazenados e confrontados com a realidade, controlados por uma inteligência vigilante e crítica – pelo entendimento – estão na origem do progresso das navegações. O estabelecimento da situação no lugar pela observação astronómica, a cautela resultante do conhecimento concreto das correntes marítimas e do regime dos ventos, tudo isso, mesmo que o ponto de partida tenha sido puramente empírico, é já do domínio da técnica e da ciência. Pedro Nunes sustenta, num passo célebre, que os portugueses procediam, nas suas viagens, com método, com rigor e conhecimento exacto, servindo-se de instrumentos que os ajudavam a navegar.[23]

João de Barros, na Ropicapnefma, observa que a ciência de Ptolomeu tinha sido superada e revolucionada pelos navegantes lusos.[24] Os pilotos serviam-se de guias manuscritos e de manuais de navegação, como se atesta pelo Esmeralda de situ Orbis de Duarte Pacheco Pereira. A técnica da construção das naus aperfeiçoa-se com base na experiência. Os textos falam constantemente dessa experiência como mãe e lição da vida, justa­ posta à razão e ao entendimento, que dela se serve para mover e guiar os homens em empreendimentos importantes.

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Esta curiosidade, fundada na experiência, é, de início, por consequência, apenas empírica. Mas o agir a que ela conduz corresponde ao avanço de um conhecimento crítico, organizado, em domínios os mais diversos do saber.

Longe de mim a pretensão de aproximar os conhecimentos que levaram os portugueses a obstinar-se sem pausa nas suas navegações da ciência moderna criada por Galileu e por Descartes! Mas um saber adquirido traz consigo outros, não já simplesmente “de experiência feitos”, antes fundados em noções cada vez mais estruturadas. Os objectivos a atingir definem-se com maior clareza, os meios a adaptar dominam-se com mais agilidade. Das tentativas empíricas passa-se para empresas planificadas, organizadas. Isso representou uma conquista no plano científico. As consequências das navegações foram-no também.

Numerosos documentos dos séculos XV e XVI, de grande valor, dão testemunho, em Portugal, desses aspectos não incidentais do primeiro Renascimento: o Almanaque petpétuo de Abraão Zacuto, editado em Leiria em 1496, com as tábuas utilizáveis pelos pilotos; o Esmeralda de situ Orbis de 1504; o manuscrito de Valentim Fernandes a que se atribui a data de 1507; o Livro da marinharia de João de Lisboa, de 1514; os Regimentos de Munique e de Évora (de 1509 a 1517); o Livro de Duarte Barbosa, composto provavelmente em 1516; o Repertório dos tempos de Valentim Fernandes, de 1518, cujo êxito terá a duração do seu século; o Roteiro de Lisboa a Goa de D. João de Castro, sobre viagens realizadas por volta de 1530.

Em meados do século de Quinhentos, o Livro da fábrica das naus de Fernão de Oliveira atesta o progresso alcançado pela técnica da construção naval; em 1563, os Diálogos dos simpres e drogas de Garcia da Orta, impressos em Goa, assinalam iguais avanços no domínio dos conhecimentos botânicos e farmacêuticos, que a Europa havia de consagrar através de numerosas edições em várias línguas. Já antes, porém, Pedro Nunes tivera jus à admiração dos matemáticos e astrónomos seus contemporâneos, que juntam o seu tratado do nónio (designação tirada do seu nome vertido em latim) ao texto de Sacrobosco; e Antonio Luís, mais conhecido pela sua Panagyrica oratio de 1539, de elogio dos Descobrimentos, mas que escreveu também livros de medicina publicados logo no ano seguinte[25]. Não é fácil, em Portugal, distinguir as fronteiras entre ciência e humanismo, pois que, se até 1530 é principalmente o conhecimento técnico que prevalece, o conhecimento humanístico virá a adaptar os métodos da nova filologia, depois dos nossos contactos internacionais, sobretudo italianos e franceses.

A historiografia portuguesa, por outro lado, pôs de parte frequentemente a orientação retórica que caracteriza a historiografia humanística italiana e francesa. Os historiadores portugueses, mesmo os que escrevem oficialmente a crónica dos feitos operados em nome do rei, atêm-se antes de mais a uma documentação menos erudita do que factual. João de Barros, Fernão Lopes de Castanheda e até Duarte Galvão não sofrem desprestígio se comparados com os representantes estrangeiros da historiografia retórica fabricada pelo Humanismo, em que a mitologia grego-latina continua a ser privilegiada, sem uma destrinça crítica entre o histórico e o fabuloso.

Talvez convenha agora focar um outro aspecto da cultura do Renascimento português, com frequência esquecido: o esforço por conciliar ideias ecuménicas e pacifistas do Humanismo com propósitos proselíticos de expansão. No espírito de humanistas como João de Barros, Damião de Góis e mesmo Antonio Luís, a expansão era legitimada pelo objectivo da evangelização: tratava-se, para eles, de uma missão civilizadora, assumida pelos que se davam como projecto levar o Evangelho a povos que o não conheciam. Erasmo não podia compreender este esforço de concordância que lhe parecia, na própria lógica dos preceitos evangélicos, inexequível por contraditória. É verdade que os humanistas sabiam distinguir as viagens dos empreendimentos guerreiros, os Descobrimentos dos actos de pirataria ou de conquista. O humanismo não estava tão embotado por uma cultura “livresca” que não tivesse consciência do que representava o alcance universal do achamento de novas gentes e de novos mundos. Mas o que o espírito humanista não podia aceitar é que se fizesse a guerra, mesmo aos infiéis, em nome de Cristo, príncipe da paz. Erasmo chegou a escrever que a melhor maneira de converter os Turcos ao cristianismo seria dar-lhes o exemplo de mansidão e amor fraternos. Os humanistas portugueses, mesmo os mais profundamente erasmianos, tinham sobre a expansão ideias diferentes das que eram professadas pelos paladinos do Renascimento humanístico europeu.[26]

O magistério de Angelo Poliziano ecoa na Epistola Plinii de Martinho de Figueiredo, em 1529, em cujos comentários figura encomiasticamente o nome de Erasmo.[27] Nas obras de frei António de Beja contra a astrologia e acerca da doutrina e ensinança de príncipes (de 1523 a 1525), cujo estilo se não afasta muito do de uma forma mentis escolástica, repercute-se a influência temática e doutrinal de Giovanni Pico della Mirandola.[28] Na Ropicapnefma de João de Barros sentimos, ainda que em surdina, a predicação da palavra de Erasmo, mas nela descobrimos também o sulco do averroísmo aristotélico italiano, representado pelo nome de Pomponazzi, que tem no seu De immortalitate animae um texto basilar do materialismo renascentista. Em André de Resende, o panegirista de Erasmo, podemos documentar a intenção de harmonizar a pietas com as letras humanas, num estilo menos sóbrio do que o do seu mestre.[29] No poema Antimoria editado em Coimbra no ano de 1536, Aires Barbosa ostenta um anti-erasmismo mais táctico do que autêntico.[30] Os humanistas que descem de Bordeus à cidade de Mondego em meados do século XVI fazem soprar em Coimbra a aragem purificante de um pensamento livre. Mas logo depois o vento da repressão tudo arrebatará enquanto as aves migradoras do erasmismo procuram céus mais dementes e horizontes mais largos. Na Imagem da vida cristã e nos tratados latinos de D.Jerónimo Osório respira-se o perfume discreto dos diálogos morais de Francesco Petrarca.[31]

Gil Vicente representa a transição da literatura medieval para a moderna e pode ilustrar o que já havia de modernidade livre na sátira social quatrocentista. Sá de Miranda, o mais insigne pioneiro da literatura nova, continua fiel, como o havia de continuar Camões, aos metros antigos e aos temas da poesia popular, cujo sabor genuíno se não deixa penetrar pela tentação de sabores estéticos mais subtis e requintados. O petrarquismo, nestes poetas, coexiste com um stilnovismo renovado, imposto por um desejo de regresso à frescura de uma temática que Petrarca não conseguiu totalmente postergar.[32]

Este traço característico não pode ser tido como significando um enxerto do novo no velho, mas um aproveitamento do que de mais puro nascia da tradição popular arcaica ou arcaizante e da revolução formal importada da Itália. A crítica à expansão é feita em nome da recusa de um presente prospectivo, voltado para um futuro digno de ser vivido, mas do que essa expansão já mostrava nos germes que haviam em breve de ser fatais à integridade do povo português. O poeta torna-se profeta. Voltado para o antigo, elogiador dos Provençais (“de que Petrarca fez tão rico ordume”, como escreve[33]), Sá de Miranda abandona a corrupção da corte e compõe, em contacto com a gente humilde e com a natureza simples, a sua obra marcada por um sinete de genuinidade poética incomparável. O Renascimento não cortara os laços que o prendiam ao que de mais alto existira na Idade Média. Angelo Poliziano desejara celebrar as viagens dos portugueses ao longo das costas de África. Um outro Angelo, Angelo Colocei, oferece às letras de Portugal, através da cópia de códices desaparecidos, a sobrevivência da antiga poesia medieval lusíada, nos cancioneiros da Vaticana e no Colocci-Brancuti.[34]

Enfim, Camões, o autor de Os Lusíadas, no propósito de identificar a vocação histórica do povo português com os feitos das viagens intercontinentais e especialmente da viagem de Vasco da Gama, sublinha, a cada passo do seu discurso épico, o que de mais universal se consubstancia no agir dos heróis imperfeitos, submetidos ao risco da morte nos mares em cólera.[35] Talvez que isso possa simbolizar o que o Renascimento representa de mais sintonizado com um destino histórico: desejo, para o homem, de escolher o seu próprio caminho; curiosidade insaciável, de mistura com uma ambição imensa de glória (não raro de vangloria) e de bens. materiais; meios técnicos que, de empíricos, se tornam rigorosos no domínio de um conhecimento amadurecido, perante os mistérios de uma natureza terrivelmente fascinante que ora se oferece no encanto irresistível de toda a sua beleza, ora se recusa e expõe os que a desafiam aos perigos que acabam por aniquilar esse “bicho da terra tão pequeno” de que fala o Poeta.[36].

Na história da cultura europeia, e primeiramente em Itália, o Renascimento é constituído na sua primeira fase pelo culto das letras humanas, pela pesquisa dos textos exemplares que pouco a pouco se descobrem; pela exaltação do homem; pela procura da beleza na imitação dos clássicos da Antiguidade (e essa procura, uma vez cumprida, deixou-nos também monumentos insignes nas artes arquitectónicas, figurativas e plásticas); pelo aperfeiçoamento de métodos filológicos com vista a restituir aos textos a sua pureza original. Os letrados entregam-se ao estudo das ciências humanas, ao aprofundamento do mistério do Homem em si mesmo e nas suas relações com os seus semelhantes, membros da mesma comunidade. Os humanistas elaboram programas de governação utópica, esboçam modelos de convivência harmoniosa na relação associada, propõem soluções que lhes parece poderem vir a ser desejáveis, estigmatizam a guerra, cantam com entusiasmo os benefícios da paz, geradora da felicidade material e espiritual, cornucópia da Idade de Ouro, apoiando-se sobre argumentos dimanados do simples bom senso ou dos grandes textos clássicos, bíblicos e patrísticos.

O Humanismo só se desenvolve, em Portugal, a partir de finais do primeiro quartel do século XVI. Mas o país está voltado para o Atlântico. Lançara-se antes na aventura das viagens marítimas, esforçando-se por conseguir o aperfeiçoamento técnico dos seus limitados meios, aptos, porém, a dar-lhe o domínio das navegações. A técnica é, de início, rudimentar, mas com a experiência torna-se rigorosa. Os conhecimentos experimentalmente adquiridos são disciplinados pela razão e tornam-se sistemáticos, transformando-se, deste modo, em ciência. Surgem textos em que esta ciência se constrói, coerente, embora, na sua génese, fundando­ se numa observação primária. Depois aparecerão obras literárias e filológicas. Nada disso é fruto de uma curiosidade gratuita. Em primeiro lugar porque o país tem as suas vias no campo e no mar. Depois porque os seus habitantes procuram os tráfegos, adaptam-se a outros climas, transfundem-se noutras humanidades, sob outros céus. Da experiência ao saber metódico, do contacto com o real à ciência rigorosa, eis como poderia enunciar-se uma definição exacta dos Descobrimentos portugueses que são historicamente o Renascimento em Portugal, precedendo o Humanismo renascentista.

Pioneiro, com a Espanha, dos Descobrimentos marítimos, Portugal é, segundo julgo, um dos dois países europeus que, antes de ser culto e letrado, foi camponês, viajante e marinheiro. Nos textos que ilustram a sua vocação própria, o mar foi o caminho invariável da sua história. Nos textos literários que os portugueses, polidos pelo Humanismo renascentista europeu, escreveram então e mesmo mais tarde, respira-se ainda o perfume delicado de flores campestres e o odor acre das fortes marés atlânticas.

NOTAS

  1. J. BARRADAS DE CARVALHO, O Renascimento português (em busca da sua especificidade), Lisboa, 1980, pp. 14-5.
  2. L’Utopie, “Catalogue de l’Exposition Bibliographique au Centre Culturel Portugais”, Paris. 1977, pp. 23-4: “D’apres la traduction italienne de ce texte que l’on trouve également dans les Navigationi et Viaggi de Ramúsio, Duarte Barbosa écrit, à la fin de sa pré­ face, que son livre a été achevé en 1516, c·est-à-dire l’année même de la parntion de la premiere édition de l’Utopie. Sebastião Francisco de Mendo Trigoso la publia pour la première fois en 1812, mais dut la confronter avec la traduction de Ramúsio, le manuscrit qu’il avait à sa disposition étant apographe”.
  3. Nesta carta-dedicatória a Leão X, Aldo Manuzio interpreta a expansão do cristianismo na Ásia por parte dos Portugueses como um sinal talvez precursor da união de todos os cristãos, por ironia da sorte quatro anos antes das “95 teses deLutero” que assinalaram, em 1517, a ruptura da Reforma protestante…
  4. A referência de Lefevre d’Étaples, na introdução dos seus comentários ao Novo Testamento, aos Descobrimentos portugueses e espanhóis é breve, mas sem ambiguidade.
  5. O passo do Ecclesiasteserasmiano, porventura inspirado pelo Legatio magni lndorum Imperatoris de Damião de Góis, reconhecendo embora o estabelecimento de novos espaços para a expansão do cristianismo, não deixa de ser muito crítico para os soberanos cristãos ocidentais que não renunciavam à guerra contra os infiéis invocando como finalidade a sua conversão a Cristo.
  6. A epístola de Angelo Poliziano inicia o Livro x dos Opera Omnia do humanista em

    todas as edições, a partir da aldina de 1498.

  7. Ver a esse respeito e ainda pelo que concerne aos textos de Góis sobre o cristianismo do Prestes João, os Damiani a Coes equites lusitani Opuscula quae in Hispania illustrata continentur, Coimbra, 1791.
  8. Fides, Relígio Moresque Aethiopumde 1540 e, na edição conimbricence dos Opuscula, pp. 161-286.
  9. Deploratio Lapplanae Gentis inserto na ediçào de Fides de 1540 e, nos Opuscula,

    pp. 287-96.

  10. Ver edição primorosa de E. GARIN, De hominis dignitate, Heptaplus, De ente et uno e scritti vari, Florença, 1942.
  11. J. V. de PINA MARTINS, L’Utopie de Thomas More et l’Humanisme, Paris, 1978, p. 27:

    “Le renoncement à la propriété individuelle est une condition fondamentale pour atteindre autant que possible le bonheur de tous”.

  12. O historiador português João de Barros (e. 1496-1570) escreveu na introdução da sua Década III que Thomas More, com a sua Utopia, procurou ensinar aos ingleses a arte do bom governo.
  13. Uma das mais célebres foi a polémica entre Jorge de Trebizonda e Bessarion, que contra o seu compatriota escreveu o famoso texto ln calumniatoren Platonis, que Aldo Manuzio editou em 1503 e, pouco depois da sua morte, os seus herdeiros publicaram em 1516.
  14. O De ente et uno não é senão um esboço da grande síntese que Giovanni Pico della Mirandola se propôs escrever acerca da sua concepção unitária de pensamento platónico e aristotélico. Este texto, que Eugenio Garin sabiamente editou em 1942, figura em todas as edições dos Opera Omnia da Fenice degli Ingegni a partir da princepsde 1496.
  15. A edição florentina do corpus plotiniano editada em 1492, de que existe um exemplar na Biblioteca Nacional de Lisboa, é um incunábulo precioso que foi editado a expensas de Lorenzo de Medici.
  16. O corpus aristotélico na edição aldina dos fins do século XV é um verdadeiro cimélio cuja importância é criticamente tão grande que dela escreveu Michelet, no volume Renaissance da histoire de France, que o seu valor iguala o do descobrimento da América … Erasmo, na sua edição do corpus do filósofo do Liceu, dedicada a John More, filho do autor da Utopia (1533-50), seguiu de perto a sua lição textual.
  17. Ver o que escrevemos na apresentação da edição princeps no nosso catálogo sobre L’Utopie, cit. na nota 2, p. 26: “II s’agit probabiement de l’oeuvre théologique la plus importante de Lefevre d’Étaples. Le livre est un vrai chef-d’oeuvre de la typographie d’Henri Estienne”.
  18. A edição do Novum lnstrumentum de Erasmo em 1516, com o texto grego e a sua versão latina, não pôde assim beneficiar da edição do Novo Testamento da Poliglota Complutense, apesar de a sua conclusão ser de 1514. A segunda edição do Novum Testamentum erasmiano em 1519 é talvez mais importante do que a princeps, um tudo-nada apressado.
  19. D. Miguel da Silva, humanista muito distinto nomeadamente nas suas poesias latinas, fixou-se em Roma, onde se prestigiou pelo seu mecenatismo e pela sua cultura, contra a vontade do rei de Portugal D. João III, que o perseguiu.
  20. Além da sua beleza gráfica na edição princeps, o livro pode ser considerado como o verdadeiro testamento espiritual de Guillaume Budé.
  21. Chronica do descobrimento e conquista da Guiné de Gomes Eanes de Azurara, transladada do manuscrito original pelo Visconde de Carreira, com introdução e notas pelo Visconde de Santarém, Paris, 1841, p. 57.
  22. Ver a edição moderna Marco Paulo, conforme a impressão de Valentim Fernandes, por F. M. Esteves PEREIRA, Lisboa, 1922. Foscolo BENEDETTO, na introdução à sua edição do Milione, intitulada La tradizione manoscritta del Milione di MarcoPolo, Florença, 1928. reimpressa pela Bottega d’Erasmo, Turim, 1962, refere-se, nas pp. CXLVII-CXI E VIII, à beleza gráfica e à perfeição textual da edição portuguesa de 1502.
  23. Ver, acerca de Pedro Nunes, o que nos ensina com ciência e rigor L. de ALBUQUERQUE na sua Introdução à história dos Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1983, pp. 187-9.
  24. Ropicapnefma, edição fac-similada com notas e um estudo por I. S. RÉVAH, Faculdade de Letras, 1952.
  25. O problema que se põe acerca da Panagyrica oratio, exaltação da expansão portuguesa por parte de um humanista processado pela Inquisição, não deixa de ser interes­ sante. J. S. da Silva DIAS tratou-o na sua ampla monografia “A política cultural da época de D. João III”, Coimbra, 1969, vol. 1, pp. 228-39.
  26. Não deixa de ser interessante verificar que, de Resende a Góis, de Barros a Teive – humanistas que seguiram mais ou menos fielmente o sulco do pensamento de Erasmo e do seu irenismo -, oshumanistas portugueses procuraram conciliar uma concepção irénica da expansão portuguesa, atendo-se principalmente a interpretar o império como um meio para expandir o Evangelho e postergando o entendimento das Descobertas de novas terras como uma forma de imperialismo político e económico.
  27. Embora a menção do nome de Erasmo não signifique, em 1529, nada de extraordinário como novidade – em Espanha já se publicavam traduções de seus textos desde 1516 -, importa salientar principalmente o significado do magistério de Angelo Poliziano.
  28. Ver o nosso estudo “L’astrologie au Portugal. António de Beja est-il disciple de Pie de la Mirandole … em Humanisme et Renaissance de l’Italie au Portugual- Les deux regards de Janus, Paris, 1988, pp. 571-618.
  29. Ver a nossa contribuição “Aspects de l’érasmisme d’André de Resende”, em Humanisme et Renaissance de l’Italie au Portugal Les deux regards de Janus, pp. 493- 553.
  30. Aires Barbosa critica o Moriae encomium de Erasmo pela sua desenvoltura satírica que põe em causa os representantes da autoridade eclesiástica, mas, nas suas ideias essenciais, não se afasta um ápice do programa cristocêntrico erasmiano.
  31. Ver o nosso ensaio – La répression contre l”érasmisme: Jerónimo Osório et la fin de l’érasmisme au Portugar, em Humanisme et Renaissance de l’Italie au Portugal – Les deux regards de Janus, pp. 555-63.
  32. No seu Canzioniere, Petrarca inova no estabelecimento de uma fidelidade rigorosa da palavra poética ao sentimento experiencial do amor, mas a sua linguagem e ó seu léxico são ainda pelo menos em parte, stilnovistas.
  33. As obras do celebrado lusitano o doutor Francisco de Sá de Miranda, Lisboa, Manuel de Lira. 1595. fl. 51 r.
  34. Sobre alguns problemas essenciais que se põem acerca da tradição textual e da elaboração deste cancioneiro, hoje na Biblioteca Nacional de Lisboa, ver o estudo fundamental de A. FERRARI, Fonnazione e struttura del Canzoniere Portoghese della Biblioteca Sazionale di Lisbona (Cod. 10991: Colocci-Brancuti) que muito nos honramos em ter publicado em – Arquivos do Centro Cultural Português”, 1979, vol. XIV, pp. 27-142.
  35. Os heróis de Os Lusíadas são, com efeito, homens de carne e osso, com defeitos que o poeta não hesita pôr em destaque, o que nem por isso abaixa o nível da inspiração épica.
  36. Os Lusíadas, I, 106, v. 8.

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